sexta-feira, 2 de julho de 2010

Reportagem sobre Doulas

A estudante de jornalismo Pâmela Belliato e mãe do Malik, esse fofíssimo que eu estou segurando em seus primeiros minutos de vida! Dedicou uma matéria no jornal da Universidade de Mogi das Cruzes sobre a doula e parto humanizado.
Estou muito grata pela oportunidade, junto com Flávia Penido, de esclarecer aos leitores o papel da doula na saúde!

 
 Doula: profissional dedicada a acompanhar gestantes e a humanizar parto

Renata da Costa Rodrigues segura bebê recém-nascido em parto normal acompanhado por doula

A tradição de acompanhar as mulheres no parto remonta à época em que o nascimento acontecia tradicionalmente em casa. A mãe recebia de alguma mulher mais experiente o conforto e a sabedoria necessários para encarar o parto como um evento fisiológico. Para resgatar a natureza desse processo, uma profissional entra em ação: a doula. Do grego, “aquela que serve”, a palavra doula define basicamente a tarefa de proporcionar e bem-estar físico e emocional à gestante.
Para a doula e estudante de enfermagem Renata da Costa Rodrigues, “doula não é uma profissão, mas uma função muito antiga.” Ela conta que esta palavra foi usada em 1973 pela antropóloga Dana Raphael para se referir às mulheres que dão suporte a outras mulheres no momento de parir.
Desmistificar as dores do nascimento, orientar a futura mãe e conscientizar a família de que gravidez não é doença são apenas alguns de seus atributos. “No trabalho de parto, a doula procura manter a parturiente no controle de todo o processo, sugere posições para que ela se sinta mais confortável, trabalha a respiração e técnicas não farmacológicas para o alívio da dor, como massagem, banhos, relaxamento”, afirma Renata.
A presença da doula não substitui o marido: ele recebe orientação para se integrar e participar ativamente da chegada do novo membro da família. A doula pode atuar em todos os tipos de parto, seja hospitalar ou domiciliar. Para isso, é preciso o consentimento da equipe.
“A doula mostra que o parto natural é melhor para mãe e bebê. Às vezes, durante o processo do parto uma cesárea é necessária e nós estamos ali para apoiar a mulher. Nunca aconteceu de me pedirem para acompanhar uma mulher que escolheu cesárea”, explicou por e-mail a psicóloga e doula vinculada à rede Parto do Princípio, Flávia Penido.


Palavra de mãe
Penido tem formação em sistêmica familiar e é mãe de três filhos. “Eu costumo dizer que tive três partos normais, mas só me senti realizada no terceiro”. Na época, Flávia acompanhava futuras mamães voluntariamente. Ela foi amparada por uma doula e uma enfermeira obstetra. “Minha filha caçula nasceu em casa porque achei que era o melhor lugar para ela vir ao mundo. Não fizeram nenhuma intervenção, ninguém a levou de mim, meus filhos acordaram e a saudaram nos primeiros minutos de vida e meu marido ficou o tempo todo ao meu lado”, conta.
É comum que a doula se aproxime da família, comenta Flávia, que concilia à sua rotina a organização de uma roda de bate-papo sobre maternidade (a roda Bebedubem) em São José dos Campos (SP). “Às vezes viramos amigas, um pouco madrinha da cria delas. As mães voltam à roda, contam suas experiências e ficam amigas entre elas também”.
A atuação da doula não se restringe ao trabalho de parto. Muitas profissionais atuam como consultoras durante a gestação e pós-parto. Renata Rodrigues afirma que “cada doula tem uma maneira de trabalhar.” A experiência e a formação da profissional influenciam nos valores cobrados. Flávia Penido destaca: “Quem faz isso, faz porque ama. Tem um custo sair de casa à noite e ficar horas ou dias sem ver os filhos e o marido”. Em geral, o preço dessa assistência varia entre 300 a 1000 reais. Para quem não pode pagar, existem as doulas voluntárias, geralmente vinculadas a hospitais públicos.
Para ser doula, não é necessário ser da área da saúde. “A formação não é oficial, existem várias, mas é bom estudar muito além do curso. A doula não discute nem faz procedimentos médicos, não toma decisões sobre a saúde da mulher nem do bebê, mas ela precisa traduzir tudo isso para a mulher e para o marido”, complementa Flávia. Em São Paulo, a Secretaria de Estado da Saúde oferece curso preparatório gratuito.

Parto humanizado?
A humanização não é um tipo de parto, é um processo. Para Flávia Penido, “Humanizar é individualizar a atenção. Num hospital existe uma rotina de protocolos médicos. Muitos procedimentos são feitos em toda mulher e todo bebê sem real necessidade”. Para saber mais, acesse: amigasdoparto.org.br e doulas.com.br.


Pâmela Belliato
Jornal PAGINA UM - Edição 75 - UMC
http://www.myebook.com/index.php?option=ebook&id=42169
Página 6 - Saúde

quinta-feira, 1 de julho de 2010

SEM ANESTESIA!


Mais e mais mulheres optam por dar à luz sem anestesia

Quando passou a ser usada para aliviar as dores do parto, no século 19, a anestesia foi comemorada como uma conquista feminina. Hoje, mais e mais mulheres optam por dar à luz sem ela. A gente foi investigar por quê

No mundo todo cresce o número de mulheres que optam pelo parto sem anestesia. No Brasil, um dos campeões mundiais em cesariana, os índices ainda são pequenos, visto que, óbvio, a anestesia só pode ser dispensada no parto vaginal. Ainda assim, cada vez mais mães que buscam o parto natural, com o mínimo de intervenção médica, dispensam a dor da picada e enfrentam a das contrações, da dilatação e da expulsão do bebê. Onde quem opta pela cesariana, temendo o parto normal, vê dor, as mães que evitam a anestesia enxergam prazer. Segundo elas, sentir o nascimento do filho é uma delícia. Para algumas, comparável a um orgasmo.

No livro As 500 Melhores Coisas de Ser Mãe, das publicitárias Juliana Sampaio e Laura Guimarães, autoras do blog que virou programa de TV Mothern, a 29ª melhor descoberta da maternidade é “reconhecer o valor de ter nascido após a invenção da anestesia”; e a 30ª, “ou encarar um parto natural sem isso e descobrir-se mais forte e poderosa do que você jamais se imaginou”. Ou seja, questão de opção. Ninguém é mais mãe por sentir dor, claaaaro. Nem precisava dizer, mas a gente faz questão.

Na primeira vez que a anestesia foi usada com esse fim, corria o século 19. A rainha Vitória deu à luz seu oitavo filho sob efeito do clorofórmio. A peridural, usada até hoje, surgiria só no século 20. No Brasil, o governo passou a pagar ao SUS pela anestesia dada no parto normal apenas a partir de 1998. Na Europa, em geral, as anestesias continuam sendo evitadas. Em outros países, como Espanha, Portugal e nos Estados Unidos, são usadas de forma liberada, mas também cresce o movimento por menos intervenções.

Entre as razões citadas pelas mães para evitar a anestesia estão o desejo de perceber o momento em que os bebês nascem, sentir prazer durante o parto, evitar que os bebês tenham contato com os anestésicos e ter maior mobilidade para amamentar.

Segundo o neonatologista Carlos Eduardo de Carvalho Corrêa, filho de Victor e Silma, um procedimento sem anestesia estabelece rapidamente o vínculo materno. Ele cita estudos que mostram que bebês nascidos de partos sem a necessidade de anestesia, ao serem colocados sobre o ventre da mãe, logo após o nascimento, fazem um movimento em direção ao peito materno, o que não acontece com bebês nascidos sob intervenções anestésicas.

Diminuindo a dor
Mas como conseguir tudo isso? Uma das respostas é recorrendo ao apoio de uma doula, acompanhante de parto que, além de dar apoio e incentivo na hora mais dolorida, ensina técnicas de respiração que ajudam a diminuir o desconforto. A presença dessa profissional, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), diminui em cerca de 60% os pedidos de anestesia. Claro que fica muito complicado não fazer nenhuma preparação prévia e querer ter o filho a seco na hora...

Segundo a doula Cristina Balzano, mãe de Mônica, Miguel e João Pedro, o ideal é que a mulher não prenda o ar durante as contrações. “A respiração tranqüila, pelo abdômen, oxigena também melhor o bebê”, explica. Outras dicas são a escolha da melhor posição, que é individual para cada mulher, massagens e o contato com a água, seja numa banheira, ducha ou com compressas, já que, diz Cristina, a água é um excelente analgésico natural.

Foi a água que auxiliou Mariana Betioli, mãe de André. Compressas feitas nas costas ajudaram no trabalho de parto. “Queria sentir cada momento lúcida, à vontade e segura”. Já Daniela Aragão, mãe de Pedro, Bernardo e Julia, teve os três filhos em partos normais: o primeiro com anestesia; os outros dois, sem. Para ela, não há comparação. “Prefiro quando tenho controle e sei a hora em que tenho de fazer força. Trabalhar em sintonia com o bebê foi a melhor sensação que já vivenciei”.

O próprio organismo se encarrega de produzir substâncias que contribuem para aliviar a dor. “O trabalho de parto oferece as ferramentas para diminuir as sensações dolorosas, produzindo um incremento fantástico nas endorfinas (substâncias conhecidas como “analgésicos do cérebro”)”, diz o obstetra e homeopata Ricardo Herbert Jones, pai de Lucas e Isabel, que relata, no livro Memórias do Homem de Vidro, sua opinião sobre o tema. A incidência das anestesias nos partos que acompanha é de quase zero.

O cérebro tem um poder tão fantástico que basta a gente acreditar que não vai mais sentir dor para ter algum alívio. Segundo um estudo feito na Universidade de Michigan, nos EUA, a simples menção de que iriam receber um anestésico fez com que pacientes que tinham tomado uma substância causadora de dor registrassem um aumento na produção de endorfinas. Acontece que a substância não passava de um placebo, sem efeito nenhum.

O direito de optar
Mas é claro que você não precisa ser radical. É sempre muito bom saber que a gente pode optar pela anestesia se, na hora H, a dor for demais. Heather, mãe de Emily, Lucas, Logan e Anna Elisa, durante sua gravidez mais recente, não queria anestesia de jeito nenhum. Mas, na hora, a dor ficou forte demais. “Estava além do meu limite. Com certeza, a anestesia ajudou.”

O obstetra e acupunturista Marcos José Pires, pai de Leonardo e Nathalia, acredita que a analgesia de parto, se aplicada no momento certo, isto é, quando as contrações ficam mais fortes entre 6 cm e 8 cm de dilatação (o total é de 10 cm de dilatação do colo do útero, quando o bebê nasce), pode garantir que a gestante tenha um parto normal. “Já no início do pré-natal, a mulher se preocupa com a dor. Sabendo da possibilidade de um procedimento que melhore bem essa dor, elas ficam mais estimuladas a tentar o parto normal”.

E, acredite: depois da picada, você realmente não sente nada. É um alívio e tanto quando a coisa começa a ficar insuportável para os padrões de algumas mulheres. Nada de bancar a heroína, não é essa a idéia.

Segundo o obstetra, que também usa a acupuntura para aliviar a dor, a analgesia atua melhorando a evolução do parto normal, facilitando a descida do bebê e a dilatação. Mas o médico alerta que isso só acontece se for feita no momento adequado, com acompanhamento do obstetra e com anestesista experiente. Caso contrário, ela pode favorecer uma parada das contrações uterinas e dificultar a dilatação, aumentando o risco de cesariana.

A Dra. Daphne Rattner, filha de Heinrich e Miriam, técnica da área de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, acredita que mulheres que, sentindo-se bem acolhidas, acompanhadas por pessoas de suas relações e profissionais que lhe inspiram confiança conseguem, muitas vezes, controlar as contrações e até não sentir a dor. Porém, quando essas condições não ocorrem, aumenta a tensão e, conseqüentemente, a dor. Daí a importância da anestesia. O melhor é não fazer nada contra a vontade. A sua, óbvio. Se achar que não precisa, tente sem. Se achar que precisa, peça e pronto. Doa a quem doer. Só não pode doer mais do que você consegue (e quer) suportar.

Conheça os tipos de anestesia:
Local: a anestesia local serve, basicamente, para permitir a episiotomia – corte na vulva ou vagina na hora do parto.

Raquidiana baixa: realizada no período expulsivo, tem ação somente na região perineal e não tira a dor das contrações.

Analgesia de parto: feita durante o trabalho de parto, serve para diminuir ou tirar a dor da contração uterina e provocar anestesia na região perineal. Via cateter, vai sendo injetado anestésico de acordo com a necessidade de cada mulher. Existem duas técnicas, uma com bloqueio simples, peridural, e outra técnica de duplo bloqueio que associa a raquianestesia com a anestesia peridural.

Fonte: Deborah Trevizan/Terra
http://www.expressomt.com.br/noticiaBusca.asp?cod=76005&codDep=3
26/06/2010
Imagem: http://img.youtube.com/vi/KIbocPhT-OM/0.jpg  modificada